A cada ano 200 pessoas descobrem que têm o vírus da Aids em Campos

'Só depende de mim, sou portador de uma doença grave e progressiva, porém tratável'

“De nada vale ajudar a quem não se ajuda”, essa frase está escrita em uma das paredes da Casa Irmãos da Solidariedade, instituição que cuida de portadores do vírus HIV.

Durante as entrevistas para esta matéria a equipe do Site Ururau ouviu portadores da doença que deram depoimentos emocionantes, pessoas que lidam diariamente com a dor, a decepção e demonstram coragem para superar os obstáculos e preconceitos. O que mais chamou a atenção foi à vontade de viver dessas pessoas, que mostraram que é possível ter uma vida normal, mesmo portando uma doença que não tem cura.

Em Campos 2.856 portadores de HIV estão cadastrados no Programa Municipal DST/AIDS e Hepatites virais. Desse total, 1.127 têm Aids e fazem uso do medicamento anti-retroviral, sendo 626 homens e 501 mulheres.

A cada ano, cerca de 200 novos pacientes procuram o programa, que dispõe de um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), referência não apenas no atendimento ambulatorial, mas também social e psicológico.

De acordo com o diretor do CTA, Leonardo Marques, por dia são distribuídas 60 senhas para que a população possa fazer exames que diagnosticam as doenças sexualmente transmissíveis, os exames podem ser feitos no período da manhã e na parte da noite.

“Eles participam de uma sessão de aconselhamento grupal sobre as DST, depois fazem uma entrevista individual e a partir daí fazem o exame. O resultado sai entre 20 e 30 dias, só pode pegar o resultado quem o fez e com documento com foto”, disse.

Leonardo disse ainda que quando o resultado é positivo o paciente é encaminhado para o tratamento. As pessoas assistidas pelo programa recebem atendimento diário das 13h às 18h. “Todos recebem apoio psicológico, médico e os remédios que serão utilizados no tratamento. Os medicamentos servem para equilibrar a quantidade de vírus no organismo”, informou.

No programa também é oferecido o teste rápido de HIV, esse procedimento é distribuído pelo Ministério da Saúde e o resultado saí em 30 minutos. “Existem critérios para fazer esse exame, geralmente fazem usuários de drogas e mulheres grávidas no sétimo mês de gestação”, finalizou.

A DESCOBERTAEm conversou com uma mulher de 22 anos que contraiu HPV do primeiro marido e HIV do atual cônjuge, sendo que ela descobriu que tinha a doença no sétimo mês de gestação.

“Assim que descobri a doença comecei a tomar os coquetéis, hoje minha filha tem oito meses e faz tratamento para que o vírus seja negativado. Ela fez já fez dois exames e eles deram o resultado de indetectável. Mas só quando ela tiver dezoito meses vamos ter a certeza de que ela não desenvolveu o vírus do HIV”, ressaltou.

Os exames ao qual a entrevistada se refere é chamado de carga viral, a criança o faz três vezes até completar os dezoito meses. Segundo a entrevistada quando a criança nasce ela ainda não tem formado seu sistema imunológico e esse é o período perigoso para que a criança desenvolva o HIV, pois enquanto estava no útero ele recebeu sangue da mãe através do cordão umbilical.

“Quando nasce a criança começa a tomar medicamentos para formar seu sistema imunológico, e ela pode eliminar tudo o que recebeu da mãe até os dois anos de idade. Quando o último exame é feito aos 18 meses de vida, as chances da criança não ter o vírus da Aids é de 80%”, informou.

A jovem, o marido e a filha de oito meses são assistidos pela Casa Irmãos da Solidariedade.

Na instituição nós encontramos um homem de 52 anos que descobriu a pouco mais de um ano que tinha contraído o vírus do HIV. Na época ele era casado, teve apoio de alguns familiares e amigos, enquanto outros não manifestaram ajuda. Chegou a ser internado cinco vezes, umas delas com herpes ostea no rosto, foi daí que a médica o disse que ele deveria fazer o teste do HIV, e deu positivo.

“Você passa por três fases, a primeira é a descoberta é um caos você fica do tipo morri, já era, como vou lidar com isso. Você entra em choque, a visibilidade de vida futura, é nula. Depois vem a aceitação, a transição de uma para outra é muito difícil, por fim você pensa vamos ver no que vai dar. Aí você entra na terceira fase que quando começa o tratamento”, relatou.

Hoje este homem fala que tem uma vida comum, estuda, namora, ajuda nos afazeres domésticos da instituição. “Aprendi que só depende de mim, sou portador de uma doença grave e progressiva, porém tratável. Vai lutar! Falaram isso pra mim e é o certo”, ressaltou.

APOIO E TRATAMENTOA Casa Irmãos da Solidariedade fez 24 anos no último dia 18 de julho, atualmente a instituição abriga 32 portadores do vírus HIV. Possui mais de 600 cadastrados, desses cerca de 180 continuam sendo assistidos e recebem auxílio médico, psicológico e medicamento para o tratamento da doença.

De acordo com a assistente social, Vanessa Quintanilha, a casa acolhe aqueles que não têm assistência familiar, que chegam ao local buscando um amparo.

“Hoje temos vaga para 50 pessoas, chegam aqui pacientes de outras instituições, pessoas do Rio, de Brasília, do Estado de Minas Gerais. Para ficar na casa existem algumas restrições não é permitido o uso de drogas, nem ter relações sexuais dentro da instituição. Aqui eles fazem exames para saber como estão as células de defesa, e exames para medir a carga viral, além de todo o acompanhamento médico”, explicou.

Os portadores da doença devem tomar cuidado para não contraírem nenhum outro tipo de doença. “Qualquer doença, até mesmo uma gripe ganha proporções maiores em um paciente que tem HIV, por isso é necessário cuidado”, informou. Mesmo assim eles não deixam de fazer atividades do dia-a-dia, vão ao cinema e a praia.

“Eles chegam sentindo que o mundo fechou as portas, aqui são tratados como cidadãos e acabam vendo as portas se abrindo novamente para uma nova caminhada. Uma caminhada saudável e digna”, finalizou.

Todos os dias o programa DST/Aids e a Casa Irmãos da Solidariedade, o Centro de Saúde e postos médicos fazem a distribuição gratuita de camisinhas. Prevenir é ainda a melhor maneira de não contrair as doenças sexualmente transmissíveis.